quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

MIRIAN III (284 - 361)

Mirian III (em georgiano მირიან III), também conhecido como Mirvan III) ou como São Mirian, foi o primeiro monarca cristão da Ibéria e estabeleceu o Cristianismo como a religião oficial do Estado e posteriormente foi canonizado pela Igreja Ortodoxa Georgiana. Iniciou a dinastia cosróida (Khosroviani) na Ibéria. Além da historiografia medieval georgiana, Mirian é atestado pelo historiador romano do século III Amiano Marcelino e pelas crônicas medievais armênias. Seu nome (Mirian) é uma adaptação georgiana do nome iraniano Mihran. A crônica georgiana medieval registra variações de seu nome (Mirean, Mirvan). Escrevendo em latim, Amiano Marcelino (XXI.6.8) registra-o como Meribanes. As crônicas medievais armênias registram Mihran. Mirian III reinou 77 anos (de 284 a 361 d.C.).
O rei Mirian III e um clérigo numa representação do
século XVII na catedral de Svetitiskhoveli

Origens Obscuras
As origens familiares de Mirian III são controversas. Segundo a tradição medieval georgiana seu pai seria um grande rei persa chamado Kasre (Cosroes) ou Kasre Ardashir e sua mãe uma escrava deste. Porém, no período em questão quem reinava na persa era Sapor I (241 - 272). O Professor Cyril Toumanoff sugere que Mirian seja originário de uma das sete famílias nobres da Pérsia sassânida, os Mirânidas. Já o historiador Giorgi Melikishvili, no entanto, duvida da origem persa dos Cosróidas e considera-os uma dinastia de local que tinha inventado uma ascendência estrangeira mitológica, uma coisa comum nas genealogias feudais. Também a tradição medieval georgiana pode ter exagerado a origem genealógica de Mirian de modo a tornar-lhe o filho da grande rei da Pérsia, Cosroes (nome comum da realeza persa). O nome Cosroes (Khusraw) não foi usado pelos Sassânidas senão algum tempo mais tarde; por conseguinte, ou os anais georgianos estão enganados com o nome do pai de Mirian ou "Khosroes" foi tomado como um termo geral na acepção de "rei". De acordo com a crônica medieval georgiana Vida dos Reis (Kartlis C'xovreba) de Leonti Mroveli, Mirian teve por pai Sapor I da dinastia sassânida e foi nomeado como rei da Ibéria em 318 d.C. A crônica medieval Mok’ts’evay K’art’lisay (Conversão de Kartli [Ibéria]) diz que Mirian III era filho de certo Lev, o que parece ser atestado por outras fontes.
Moeda com a efígie do rei sassânida Sapor I

Menino Rei
Mirian teria nascido em 277 d.C. na família dos Sassânidas, a dinastia persa governante, ou na família dos Mirânidas, uma das sete grandes de casas da nobreza persa no Império Sassânida. Quando do exílio do  rei da Ibéria Aspagur I, os éristasvs (nobres) se reuniram em torno do espaspeta (chefe militar da corte), Maïjan, e acordaram em oferecer a jovem princesa Abeshura a Mirian, iniciando uma dinastia de origem persa. Mirian teria então apenas sete anos de idade. A Ibéria, antiga aliada do Império Romano, passa assim para a vassalagem dos Sassânidas, os novos rivais de Roma. Na crônica medieval Vida dos Reis  o reinado de Mirian III é narrado com muitos detalhes. Embora a sua informação sobre a participação de Mirian - como um rei vassalo dos Sassânidas - no guerra dos persas contra o Império Romano, e suas  ambições territoriais na Armênia possam ser verdadeiras, as afirmações de Mirian III era um pretendente ao trono do Império Persa e de que tinha sob controle a Cólquida e a Albânia , bem como a expansão de sua atividade na Síria é obviamente ficcional. Em 292 a rainha Abeshura faleceu em 292, quando Mirian tinha 15 anos, e não deixou filhos. Com a morte de Abeshura, extingui-se no trono ibérico o último descendente da linhagem dos Parnavázidas, segundo a crônica medieval. Mirian III casou-se com Nana, "filha de Oligotos do Ponto", segundo a crônica medieval, a qual tem sido identificada com uma filha do governador romano de Teodósia, no  reino do Bósforo, chamado Aurelius Valerius Sogus Olympianus, ou ainda o ainda o rei do Bósforo, Teotorses. Nana deu a Mirian III três filhos conhecidos: Rev II (que foi cogovernante e o sucedeu), Aspagur II (que também reinou posteriormente) e uma filha que se casou com o persa Peroz, éristhav da região de Godarene.
O rei Mirian III e a rainha Nana:
santos da Igreja Georgiana

Aproximação com o Império Romano
Como o Império Sassânida erigia-se como a grande potência do Oriente Médio, sua influência se entendeu a todo o Cáucaso, colocando a Ibéria, antiga aliada de Roma e agora vassala da Pérsia, em difícil situação. Em 299 no tratado conhecido como Paz de Nisibis entre o Império Romano e o Império Sassânida, foi reconhecida a suserania de Roma sobre a Armênia e a Ibéria. Mirian III teve o reconhecimento de  sua realeza pelos romanos (uma vez que fora entronizado à revelia de Roma) e rapidamente se adaptaram a esta mudança na situação política estabelecendo estreitas relações com o Império. Seu fillho mais velho, Rev,, casa-se com a filha do rei Tiridates III da Armênia, rei-cliente de Roma, e seu filho mais novo, Bakar (o futuro rei Aspagur II), vai para a corte imperial como refém (penhor de aliança) onde fica sob custódia do imperador Constantino I. Em 337, o rei persa Sapor II rompeu o tratado de paz com os romanos. Amiano Marcelino relata que o imperador Constâncio II enviou em 360 embaixadas com presentes caros para o rei Arsaces II da Armênia e Meribanes (Mirian) da Ibéria para garantir a sua lealdade durante o confronto com os Sassânidas.
Estudo e ilustrações de ruínas de um templo pagão em Armazi do início do século I
destruído durante o período de cristianização na primeira metade do século IV

Miran III, o Cristão
Santa Nino da Capadócia
Além das questões políticas havia as questões religiosas. Nesta época, o cristianismo no Império Romano crescia e ganhava influência e adeptos, principalmente no lado oriental, o lado mais próximo à Ibéria. No entanto, a religião ibérica era ligada à religião persa (o zoroastrismo) o que influenciava significativamente a situação política na Ibéria. Mirian pressionado por sacerdotes influentes não pôde inicialmente fazer contatos com o Império Romano. Contudo, Estados vizinhos (reinos da Cólquida e da Armênia) converteram-se ao cristianismo o que lhes deu oportunidade de se inserirem na proteção e influência do Império Romano e também em aliados da Ibéria sob a influência romana. Em 334, depois de assistir a sua própria esposa, a rainha Nana, sendo batizada pela  jovem missionária Nino da Capadócia e a implementação da comunidade cristã no seu reino, Mirian aproveita a oportunidade para romper com a influência persa e o intimidante sacerdócio zoroastriano.  De acordo com a lenda, quando caçava nas florestas próximas a sua capital Mtskheta, uma escuridão caiu sobre a terra e o rei ficou totalmente cego. Confuso e desesperado, o Mirian orou para o Deus de Nino pedindo ajuda. Após a oração, a luz retornou e Mirian pôde encontrar seu caminho novamente para Mtskheta. Quando de sua chegada, ele solicitou a audiência com Nino e converteu-se ao Cristianismo logo após.   Em 337, o rei Mirian III proclamou Cristianismo como a religião oficial da Ibéria proibindo o culto aos deuses pagãos.
Monastério de Jvari  em Mtskheta cuja fundação se atribui a Nino da Capadócia
 Sua conversão promoveu o crescimento do governo real central, que confiscou as propriedades dos templos pagãos e os deu aos nobres e à Igreja. As fontes georgianas medievais evidenciam o cristianimso se propagando na monarquia e na nobreza, mas sofrendo resistência do povo das montanhas. Após a conversão da Ibéria ao cristianismo, Mirian aconselhado por Nino, enviou um embaixador ao imperador Constantino I (307-337) e pediu-lhe para enviar missionários cristãos à Ibéria. Segundo escreve o historiador romano Tirânio Rufino, Constantino entusiasmado pela notícia da conversão dos iberos, enviou uma delegação de bispos e clérigos à corte do Rei da Ibéria. Constantino teria também alocado um espaço para a Igreja Ibérica em Jerusalém chamado Lotasa (onde o Convento de Santa Cruz foi construído). De acordo com algumas fontes, o Rei Mirian visitou Nova Roma (Bizâncio/Constantinopla) e encontrou-se com Constantino. Antes da sua morte, Mirian viajou a Jerusalém, onde ele supervisionou a construção de um mosteiro ibérico. Mirian foi enterrado em Mtskheta ao lado de sua esposa Nana e seu túmulo pode ser visto hoje na Igreja de Samtavro. Seu filho Rev II exerceu uma corregêngia com ele entre 345-361. No entanto, foi sucedido pelo neto Saurmag II.

Nenhum comentário: